A febre é uma das causas de maior ansiedade vivida pelas famílias e também de recorrência aos serviços de saúde. Por este motivo, este artigo pretende ser uma forma de vos oferecer suporte para esta temática de forma a sentirem-se mais capazes de lidar com a febre.
Há só uma forma de avaliar a febre? São todas viáveis? Há formas certas de colocar um termómetro? Quando é que se torna verdadeiramente grave?!
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Importa reforçar que a febre não é uma doença, é sim um sintoma, que surge quase como sinal de alarme, associado a algum tipo de “agressão” externa, possivelmente uma infeção. Explicando de uma forma muito simples, o organismo vai aumentar a sua temperatura “habitual” para conseguir combater! logo a febre é um mecanismo benéfico. Todas as ações a realizar serão no sentido de ficar alerta e de devolver conforto à criança. Importa lembrar que quando a febre é grave, existem outras manifestações clínicas/sinais de alerta associados, que faço referência mais à frente.
Deve-se avaliar a temperatura?
É importante avaliar, quantificar a temperatura corporal. Só assim podemos afirmar existir febre. Muitas vezes os pais recorrem aos serviços de saúde e referem ter febre mas não sabem dizer quanto.
Quais os locais de medição da temperatura corporal e como se realiza a avaliação em cada local?
Retal: método mais rigoroso e o que melhor corresponde à temperatura central sendo preferência até 1 ano de vida. Consiste em introduzir o termómetro digital de ponta flexível ou o de galinstan no ânus (pelo menos 3 cm). Para facilitar deve-se colocar a criança de lado com as pernas ligeiramente fletidas e de seguida introduzir o termómetro. Aguardar o apito sonoro com o resultado.
Axilar: método mais prático embora não seja tão preciso. A leitura correta é a existente ao fim de 5 minutos, ou seja, deve-se manter o braço encostado ao tronco durante 5 minutos e só depois se deve ligar o termómetro e esperar pelo apito. Na criança tem vantagem colocar na posição póstero-anterior da axila impedindo-se que o remova facilmente.
Timpânico: mais rápido. Evidência refere muitos falsos negativos, sobretudo em idade inferior a 3 anos. Para um maior rigor devem ser sempre realizadas 3 determinações consecutivas considerando-se o valor mais elevado
Oral: Pode ser utilizado na criança a partir dos 5 anos. Existem aspetos a considerar para uma técnica bem realizada: a boca deve estar sempre fechada; o termómetro digital deverá ser colocado desligado e só deve ser ligado 3 minutos depois; a ponta do termómetro deve ser colocada debaixo da língua. Por estes motivos as chupetas com termómetros digitais, não são fiáveis.
Quais os valores que se considera febre?
Retal ≥ 38ºC
Axilar ≥ 37,6ºC
Timpânica ≥ 37,8ºC
Oral ≥ 37,6ºC.
Quais são os “sinais de alerta” numa criança com febre para recorrer a um serviço de saúde?
- Se idade inferior a 3 meses de idade;
- Se idade inferior a 6 meses com temperatura axilar ≥ 39,0ºC ou retal ≥ 40,0ºC;
- Se tiver temperaturas axilares superiores a 40,0°C ou retais superiores a 41,0°C;
- Se tem uma doença crónica grave;
- Se tem febre há 5 ou mais dias, ou se a febre reaparecer após 2 a 3 dias de temperaturas normais.
- Sonolência excessiva ou por outro lado incapacidade em adormecer;
- Irritabilidade e/ou gemido mantido;
- Choro inconsolável; não acalma nem tolera o colo; presença de dor perturbadora;
- Aparecimento de manchas na pele nas primeiras 24 a 48 horas de febre
- Respiração rápida com cansaço associado
- Vómitos repetidos entre as refeições ou recusa alimentar completa superior a 12 horas; sede insaciável;
- Lábios ou unhas roxas e/ou tremores intensos e prolongados na subida da temperatura;
- Dificuldade em mobilizar um membro ou alteração na marcha;
- Urina turva e/ou com mau cheiro mantido;
O que posso fazer para ajudar a criança com febre?
- Oferecer líquidos (água, leite)
- Permitir que a criança se sinta confortável despindo ou vestindo adequando à sensação de frio ou de calor, sem criar sobreaquecimento;
- Após descida térmica promover medidas de conforto, como seja banho tépido.
- Se a criança está desconfortável, deve tomar medicação apropriada.
Qual o fármaco a administrar perante a febre?
- Utilizar o paracetamol, (fármaco de 1.ª linha), seguindo a posologia prescrita pelo médico;
- Respeitar o intervalo mínimo entre duas tomas consecutivas que é de 4 horas;
- Poderá administrar-se ibuprofeno, exceto: em idade inferior a 6 meses; na varicela; se a criança tiver uma alergia a qualquer medicamento anti-inflamatório;
- Neste caso respeitar o intervalo mínimo de 6 horas.
- Não é necessário nem deve ser rotina, utilizar dois antipiréticos alternadamente. Considerar a eficácia do fármaco quando a temperatura baixa de 1,0º a 1,5ºC dentro de 2 a 3 horas;
- O objetivo do antipirético é aliviar o desconforto da criança e não eliminar por completo a febre a todo o custo. A febre voltará a subir até a doença passar.
Dicas finais a reter:
- Os comuns banhos, compressas húmidas, álcool ou uso de ventoinhas estão desaconselhados na fase da subida térmica, ou seja, quando a criança tem frio, treme ou apresenta lábios arroxeados. Poderá ter algum significado enquanto medida de conforto para a criança, somente durante a fase da descida térmica.
- Importante verificar a existência dos “sinais de alerta”. Mais importante do que quantificar os graus da temperatura e/ou a duração da febre;
- A existência de “sinais de alerta” são indicativos da efetiva necessidade de recorrer aos cuidados de saúde;
- Lembrar que as viroses, responsáveis pela maioria dos episódios febris, duram cerca de 4 dias completos, muitas vezes 5 dias!
- Uma temperatura corporal mais elevada não significa aumento do risco de convulsões febris;
- Recorrer sempre que necessário ao Centro de Contacto SNS 24 (808 24 24 24)
Enf. Ângela Baptista
Mestre em Saúde Infantil e Pediatria
Fonte: Orientações Técnicas DGS